Os fractais são formas geométricas obtidas a partir de um elemento base ao qual se aplica uma certa transformação bem definida através de regras rigorosas que se aplicam infinitamente. Tecnicamente, um fractal é um objecto que não perde a sua definição formal à medida que é ampliado, mantendo-se a sua estrutura idêntica à original. Pelo contrário, uma circunferência parece perder a sua curvatura à medida que ampliamos uma das suas partes. Existem duas categorias de fractais: os fractais geométricos, que repetem continuamente um padrão idêntico, e os fractais aleatórios. As principais propriedades que caracterizam os fractais são a auto-semelhança e a complexidade infinita. Outra característica importante dos fractais é a sua dimensão. A auto-semelhança é a simetria através das escalas. Consiste em cada pequena porção do fractal poder ser vista como uma réplica de todo o fractal numa escala menor. Esta propriedade pode ser vista, por exemplo, na couve-flor. A complexidade infinita prende-se com o facto de o processo gerador dos fractais ser recursivo, tendo um número infinito de iterações. A dimensão dos fractais, ao contrário do que sucede na geometria euclidiana, não é necessariamente uma quantidade inteira. Com efeito , ela é uma quantidade fraccionária. A dimensão de um fractal representa o grau de ocupação deste no espaço, que tem a ver com o seu grau de irregularidade.
Lembro-me das primeiras vezes que me deparei com a Teoria dos Fractais ( ou Teoria do Caos ) do exemplo dado ser a fronteira de um determinado país. Não é complicado num mapa de escala pequena efectivamente marcarmos as suas fronteiras. No entanto, à medida que aumentamos essa escala as linhas vão adquirindo cada vez mais rigor, tornando-se cada vez mais quebradas. No limite, num país como o nosso, poderemos questionar até que escala vai o pormenor para limitar essa fronteira, entendo-se mais facilmente esta questão no caso do mar e da praia. Aumentando o rigor, estaremos, por exemplo na definição de qual o grão de areia que faz parte do país e qual aquele que não faz. Mas a teoria fractal faz com que este processo seja infinito, pelo que torna fisicamente ( e mesmo teoricamente ) impossível de marcarmos a nossa fronteira.
É possível falarmos dessa fronteira num sistema "digital", já que este é binário. Apenas funciona com "0" e "1" como On/Off . No já longiquo tempo do ZX Spectrum, por exemplo, trabalhava-se a 8 bits, ou seja, por exemplo, com "00110011" que constituiam 1 Byte. ( estou a falar de cor. Corrijam-me se estiver errado ). Aqui a fronteira é o "Pixel" que é indivisível. Isto não se passa no sistema analógico que é contínuo [ A título informativo, e pode surpreender alguns, mas a qualidade do disco de Vinil, nas condições perfeitas de audição é superior à do CD, nas mesmas condições.].
Assim como o arco-irís, que ao contrário do que se diz, não tem 7 cores mas sim um número infinito de cores, exactamente pela lógica dos fractais.
Partindo deste princípio simples de entender, transporto esta mesma teoria para outros campos, não matemáticos ou geométricos, mas sim éticos.
Há algum tempo fizeram-me a seguinte pergunta: - Tenho uma sala e estou com um dilema. Ou torno a minha casa com mais arquitectura e ponho uma peça solta no meio da sala que serve com cozinha de um lado e w.c. do outro, ou encosto estas duas divisões ás paredes, ganho espaço mas fico com menos arquitectura. O que é que faria?
Educadamente, esquivei-me a responder. O profssional por ela contratado saberá por certo responder convenientemente a este problema.
E ponho mesmo esta palavra: PROBLEMA. São inúmeras as situações que durante o processo de arquitectura nos deparámos, por várias questões, com vários caminhos para seguir e em todos ( como em tudo na vida ) há vantagens e desvantagens. Dirão que se pondera os prós e contras e vamos para a solução mais equilibrada.
Mas surge a dúvida, tal como a ampliação da fronteira, do limite. E há alturas de decisões em que a fisicamente não é possível ir mais além. É naquela escala que teremos de responder.
Onde termina a ética do arquitecto como profissional e se inicia o seu capricho? Sendo a escala sempre infinita, esta é uma questão que se põe a qualquer nível, não se falando aqui de questões essenciais obviamente.
Se numa imagem "vista" por um fotógrafo fosse importante ( mas não essencial ) a presença de um objecto para a leitura de um determinado contexto e onde esse mesmo objecto desiquilibraria todo um conjunto que estaria quase perfeito sem ele, deixaria ou tiraria o objecto?
E no caso do jornalismo, onde uma frase com a mesma importância das outras situações já referidas, pudesse ser retirada para que o texto ficasse com mais força mas não 100% compreensível?
Não gosto de caprichos. Lido com esse problema diariamente. Onde acaba a minha função como profissional e se inicia o capricho?