Há dias estava na obra quando chegou o investidor no loteamento onde está integrado o lote a que se refere esta obra. Apenas falou com o nosso cliente. Estava eu distante , pelo que pude admirar um quadro tão característico da nossa sociedade. Era como uma fotografia com os nobres trabalhadores da obra em primeiro plano e algo de fundo que para mim está desfocado. Como de um assunto sem interesse se tratasse. Lembrei-me do SEVEN e dos pecados mortais, tal a disparidade de atitude para com a sociedade que naquele quadro estavam presentes, onde a capacidade financeira é para alguns um aspecto da personalidade, uma mais-valia.
Os opostos estavam presentes: SOBERBA/HUMILDADE, AVAREZA/LIBERALIDADE, LUXÚRIA/CASTIDADE, IRA/PACIÊNCIA, GULA/TEMPERANÇA, INVEJA/CARIDADE, PREGUIÇA/DILIGÊNCIA.
Da minha educação consta respeita para seres respeitado . Todos os dias chego à obra e é ponto de honra para mim cumprimentar todas aqueles que levantam o meu imaginário, que materializam os meus sonhos. Sento-me por vezes junto a eles, a admirar a sua arte, o saber fazer, para assim me ensinarem o seu trabalho. Eles respondem sempre com um sorriso, com respeito - porque são respeitados - e não raras as vezes dizemos umas piadas para aliviar o seu duro trabalho.
A estes homens chegava então um representante de uma outra parte da sociedade. A dos novos ricos, onde o trabalho duro e a vida não custam, onde se vive da aparência, do seu Jaguar novo, dos campos de golfe e de tudo o resto que com eles relacionados se torna fútil. São as pessoas que trabalham para a imagem, onde o dinheiro é sinónimo de poder. Pessoas com alguma dificuldidade na respiração, tal a forma como levantam o nariz ( presumo na minha inocência que seja para respirar melhor... ) . São Engenheiros, Arquitectos, Doutores. Mesmo que não o sejam, assim são tratados.
É nesta sociedade de tanta hipocrisia que cada vez mais admiro estes homens da foto na obra. É no seu meio - o trabalho - que melhor se compreende a sua genuinidade. A simplicidade e coerência dos seus ditos. A simplicidade e coerência dos seus actos.
O que isto tem a ver com arquitectura? Tudo! Mas amanhã conto-vos o resto...